segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

ARTIGO - Economia das nuvens ; pés no chão

(*) Por Artur Lopes
Recente declaração do conceituado economista Edward Amadeo, feita ao jornal O Estado de S. Paulo, coloca o Brasil como forte candidato à condição de próxima bolha mundial, pelo fato de ser “um dos países mais quentes do mundo em termos de atração de capitais, seja para investimentos e ações, seja para ganhos com os juros altíssimos do País”.

Antes de mero pessimismo ou mau agouro gratuito, essa análise merece ser interpretada com atenção especial, pois sinaliza um aspecto preocupante tanto para o governo quanto o mercado: até que ponto a euforia do crescimento da economia brasileira (8,3% nos oito primeiros meses do ano, comparado a igual período de 2009) pode ter como efeito colateral uma crise cambial sem precedentes?

Difícil de dizer, mas é inegável a existência de fatores que tornam a advertência do especialista no mínimo instigante. A desvalorização competitiva das moedas em escala global, a elevada carga tributária, a atração de capital externo por conta dos altos juros, a insegurança jurídica, a falta de investimentos em infraestrutura e até mesmo o endividamento excessivo das famílias são apenas alguns motivos para essa reflexão, tendo como pano de fundo a já propalada ‘desindustrialização’ do Brasil.

Esse fenômeno da “desindustrialização” se dá pela impossibilidade de nossas empresas concorrem no mercado externo em virtude do real valorizado e começa a comprometer a concorrência no mercado interno em razão da depreciação de muitas moedas estrangeiras.

Nesse ritmo no médio prazo nossas empresas estarão divididas entre exportadoras de commodities ou comerciantes (importadores) de mercadorias produzidas no exterior. Nossa atividade industrial tende a ser pífia.

Em função desse amplo e complexo diagnóstico, creio ser fundamental que as empresas nacionais comecem a se preocupar com um provável período de estagnação, traçando desde já estratégias compatíveis com essa possibilidade.

A previsão de um panorama econômico bem mais complicado daqui a algum tempo torna imperativo às empresas buscarem o quanto antes providências eficazes para evitar sérios reflexos financeiros negativos em sua operação, algo bastante provável se pelo menos parte dos prognósticos da atualidade se confirmar.

Cabe aos gestores adotar, por exemplo, certos comportamentos que já se comprovaram válidos em crises do passado. Cautela, sem dúvida, é a primeira delas, sobretudo em função da falsa ideia de onipotência que muitos dos nossos empresários tendem a alimentar, após terem enfrentado hiperinflação, pacotes econômicos, mudanças de moeda e muitas outras situações delicadas que acabaram por inflar o seu próprio ego muito mais do que a efetiva solidez dos negócios que conduzem.

Mesmo que a empresa entre em dificuldades, o empreendedor – e isso chega a ser um traço cultural do empreendedorismo brasileiro, não raro acredita piamente possuir todo o ferramental necessário – seja por experiência empírica ou algum curso miraculoso que tenha feito – para driblar a iminente derrocada. Se decidir por este caminho, mais cedo ou mais tarde será obrigado a fechar as portas.

Em segundo lugar, é necessário que a empresa – independentemente do seu tamanho – reveja o portfólio e analise que tipo de produto ou serviço realmente é imprescindível para manter sua operação de fato rentável.

Para dar um exemplo compatível ao mercado de hoje, persistir nas vendas externas com a moeda nacional supervalorizada, apenas para manter o mercado, pode tornar-se quase um suicídio em médio prazo, por mais que exportar seja uma prática saudável, em tese.

Em momentos assim, é fundamental ser honesto não apenas consigo próprio, mas sobretudo com o cliente e o público interno, ao expor a todos o cenário real, antes que a sustentação de um falso sucesso conduza ao fracasso inevitável.

Por mais que algumas incertezas atuais possam ensejar preocupações , em alguns casos exageradas – é verdade - nada impede que sejam aproveitadas de forma ponderada e inteligente para a revisão imediata de métodos, práticas e, principalmente, atitudes, essa última uma palavrinha mágica, que tem operado verdadeiros milagres na vida de países, empresas e gestores.

(*) Artur Lopes é advogado e fundador da Artur Lopes & Associados, consultoria especializada em recuperação, consolidação e ampliação de negócios. Foi Diretor de várias empresas, é membro da TMA BRASIL (Turnaround Management Association), autor do livro “Manual de Gestão de Crise Financeira e Turnaround” e ex-secretário-executivo do Conselho Nacional do Auto-regulamentação Publicitária (Conar).

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