quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ARTIGO - O imperativo do “ganha-ganha”

Por Orlando Lima(*)

É interessante observar posições das empresas e do Governo quando se discutem novos projetos de investimentos produtivos. De um lado, empresas buscando realizar seus investimentos com foco na geração de valor a seus acionistas (DNA empresarial), deparando-se com desafios crescentes nos aspectos socioambientais, muitas vezes materializados em dificuldades de licenciamento ambiental dos projetos. Nos últimos anos acompanhamos inúmeros embates públicos desse tipo na mídia principalmente em setores de infraestrutura, como energia, assim como extração mineral, entre outros, por um motivo simples: são segmentos que envolvem grandes obras e impactos ambientais significativos.

De outro lado, comunidades, representantes da sociedade civil, prefeituras e governos estaduais e federal, demandando dos investidores privados a geração de empregos, impostos, desenvolvimento econômico e social, mínimo impacto ambiental, muitas vezes como condicionantes da concessão de licença para os investimentos. Em todo o mundo e também no Brasil, o poder da sociedade tem crescido em função de sua maior organização e consciência sobre aspectos e impactos ambientais das atividades econômicas. Nesse contexto, leis e instituições têm sido aprimoradas facilitando a cobrança e a negociação de agenda mais equilibrada de desenvolvimento sustentável com as empresas investidoras.


Em algumas indústrias, esse embate toma vulto significativo a nível mundial, como é o caso da indústria mineral que traz embutida em sua própria atividade, indústrias de infraestrutura necessárias à produção e escoamento como ferrovias, portos, etc. Nessa indústria configurou-se o conceito de “Licença para Operar”, que extrapola o licenciamento ambiental formal e incorpora o apoio amplo e contínuo da sociedade ao projeto empresarial. Uma empresa que perde a “Licença para Operar” numa região enfrenta elevados prejuízos, quando não chega a ver comprometidas suas próprias operações na região. Essa condição tem levado a indústria da mineração a considerar sustentabilidade como parte integrante de seu “core business” e de sua estratégia buscando maximizar seus benefícios nas regiões onde opera.


Recentemente foi noticiado que a região de Congonhas do Campo (MG), hoje com 50 mil habitantes, deverá receber investimentos em mineração e siderurgia da ordem de R$ 24 bilhões, que deverão gerar 40 mil empregos temporários e 18 mil permanentes, causando um impacto significativo na região e novas oportunidades de desenvolvimento, se forem bem aproveitadas. Esse processo gerou a formação de um Consórcio de sete municípios (Codap) para buscar ações comuns em benefícios de todos e um mínimo impacto desfavorável.
No entanto, as boas intenções dessa iniciativa só serão alcançados com um esforço muito bem articulado que equacione o dilema acima exposto: empresas com foco em valor ao acionista de um lado, e sociedade desejando maximizar o desenvolvimento e qualidade de vida na região de outro.


É por esse motivo que se impõe a necessidade de um novo paradigma dos chamados Projetos de “Duplo Valor”, ou seja, projetos de investimentos das empresas concebidos com o “duplo objetivo” de gerar valor aos acionistas e ao mesmo tempo gerar valor para a sociedade onde estão inseridos. Para os acionistas o critério é conhecido através de metas de implantação, produção e retorno esperado dos investimentos. Mas para a sociedade podem e devem ser explicitados objetivos a serem alcançados de curto, médio e longo prazo. Tais objetivos incluem geração de empregos, infraestrutura urbana e social, desenvolvimento econômico local incluindo cadeias de fornecedores, conservação de ativos ambientais, entre outros. Uma vez explicitados de parte a parte e formalizados através de um pacto de compromissos entre as partes diretamente afetadas, tais objetivos terão maiores chances de materializarem-se, reduzindo riscos de ambas lados.


Congonhas do Campo é apenas um exemplo entre muitos outros no Brasil onde dezenas de regiões enfrentam o mesmo desafio. Situações semelhantes ocorrem em regiões como Itaboraí (RJ) onde está sendo instalado o Comperj (ilustração), Itaguaí onde está situada a CSA e diversos outros investimentos, Suape em Pernambuco, apenas para citar algumas, sem falar das perspectivas de investimentos que virão com o Pré-Sal.


Mas a boa notícia para as empresas ainda está por vir. Com a adoção da uma agenda de “Duplo Valor”, o que poderia parecer apenas como “custos” socioambientais adicionais impactando os orçamentos dos projetos levarão as empresas a colherem benefícios econômicos adicionais e talvez inesperados. São benefícios como a menor inflação salarial local devido à maior oferta de mão de obra capacitada na região, menores custos de habitação para empregados e de terceiros, produtividade operacional fruto da disponibilidade e qualidade de infraestrutura urbana para os empreendimentos (ex. vias de acesso), disponibilidade de recursos naturais para suprimento a suas operações (ex.: água), maior velocidade de obtenção de licenças ambientais para futuras expansões, para citar alguns.


Trata-se de um novo caminho capaz de romper dilemas de sustentabilidade em novos investimentos e representar uma espiral positiva que não podemos desconsiderar em nosso país.


(*) Orlando Lima é Fundador e Presidente da Janus Consultoria em Sustentabilidade e Colunista da Plurale em site (www.plurale.com.br).
http://www.plurale.com.br/noticias-ler.php?cod_noticia=9356

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