terça-feira, 28 de julho de 2009

Contra o sedentarismo cerebral, o CRO


Dificilmente transformamos as informações e o conhecimento
adquiridos em “aprendizado prático”. Ronaldo Frederico, sócio-diretor
da Gher Consultoria (*), sugere que as empresas tenham um executivo responsável por fazer reflexões e evitar que a rotina as “engula”.


Pensar, criar, questionar. Essas faculdades inerentes aos humanos estão praticamente em desuso hoje em dia no mundo corporativo. A culpa desse sedentarismo cerebral poderia ser creditada à rotina alucinante que nos impele a tomar decisões rápidas. “A pressa é inimiga da perfeição”, sentencia um velho e sábio dito popular.

Somos constantemente bombardeados com novos conceitos, tecnologias e conteúdos que objetivam melhorar e ampliar a atuação das empresas. Dificilmente, no entanto, transformamos as informações e o conhecimento adquiridos em “aprendizado prático”. Paradoxalmente, tudo isso cerceia e até bloqueia o surgimento de idéias criativas e inovadoras.

Raramente o ambiente corporativo é estéril, porém. Em toda empresa há funcionários aptos a desenvolver produtos, idéias e tecnologias novas, mas eles precisam de incentivo.

Quantas vezes alguém apresenta um projeto inovador para a corporação aumentar suas vendas e um colega solta aquela frase em inglês: ”Time is money” ? Pronto, era uma vez a inovação.

No âmbito do alto escalão das empresas, o atual cenário não é muito alentador. Onde todo executivo deveria fazer uma análise ampla para que as decisões estratégicas pudessem ter maior impacto, vemos atividades meramente operacionais, sem profundidade de análise e de questionamento – e sempre com a justificativa da falta de tempo e dos inúmeros compromissos da agenda.

A análise ampla é como a apreciação de uma pintura. Quando olhamos de perto um quadro de Van Gogh, por exemplo, temos a sensação de que existem apenas borrões espalhados de forma ilógica pela tela. Porém, dando três ou quatro passos para trás, podemos apreciar toda a sua beleza e genialidade. Assim deveria ser em nosso dia-a-dia profissional.

UMA NOVA FUNÇÃO - Criaram-se tantos acrônimos para representar diversas funções e responsabilidades dentro das empresas, como CFO, CIO, COO [principais executivos de finanças, informação, operações] entre outros, que não nos demos conta da real importância de uma nova função: o CRO, Chief of Reflection Officer, ou principal executivo de reflexão.

Em outras palavras, o CRO é o executivo responsável por não ser engolido pela operação e pelas atividades rotineiras, inúteis e míopes. Ele deve possuir visão ampla e crítica do que ocorre na empresa, e ser capaz de analisar todas as situações de um ângulo diferente.

Inerente à sua função está a capacidade de aprender com a análise mais profunda dos problemas cruciais que afloram diariamente, aqueles que ninguém na organização tem tempo para notar. Além disso, o CRO precisa ter liberdade de criação e de pensamento que o torne fundamental para o crescimento e a sustentabilidade da empresa.

A atenção do CRO, antes de mais nada, deve concentrar-se nas pessoas –são elas que permitem a existência da corporação. E, para tanto, ele deve levar em consideração aspectos subjetivos e pessoais, características e aptidões, gostos e tendências de cada um.

O resultado final dessa nova função muito provavelmente serão empresas com crescimento estruturado e constante, de um lado, e pessoas motivadas e com a real noção de contribuição em todos os níveis, de outro.

Já há provas reais disso. São algumas empresas que surgiram nos últimos 20 anos, caracterizadas pelo questionamento e pela inovação em relação aos modelos existentes – em particular, na área de tecnologia. Nelas novas alternativas de negócios são apresentadas todos os dias, abrindo diversas possibilidades. Estou falando em novos modelos de comercialização, novos conceitos que atendem a um futuro incerto, como a tecnologia e-learning, por exemplo.

Os líderes devem incentivar o questionamento

Cabe aos líderes mudar a rotina das empresas. É responsabilidade deles incentivar diariamente o questionamento de todos os funcionários. No entanto, não me lembro de ter visto ou ouvido nas mais diversas definições de liderança a competência de transformar o ambiente de trabalho (e conseqüentemente a sociedade) em um organismo crítico, analítico, questionador. Os líderes precisam ter coragem, competência e, principalmente, visão abrangente objetiva e subjetiva para adquirir essa competência.


(*) Ronaldo Frederico, consultor, ex-executivo de empresas nacionais e internacionais de grande porte, é sócio-diretor da Gher Consultoria, empresa parceira da Virtual Comunicação.

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