quinta-feira, 8 de julho de 2010

A COMUNICAÇÃO na crise

Silvana Destro é profissional de comunicação corporativa, especialista em gestão de crise e parceira da Virtual Comunicação.
Com a sua autorização, republicamos TRÊS ARTIGOS sobre o FLAMENGO e a CRISE. Vale a pena dar uma lida !





IMAGEM – TODO CUIDADO É POUCO

Numa palestra há três semanas, eu lembrava aos ouvintes que uma crise institucional pode atingir, em diferentes graus, pessoas, empresas, ONG's, clubes de futebol etc. O caso do goleiro Bruno ainda não tinha ganhado tanta força.

Pois temos aí, nesse caso, um exemplo de crise clássica em um grande clube de futebol, que por acaso abriga a maior torcida do País. Pois bem, a maionese desandou e Patricia Amorim, na qualidade de presidente do Clube, não conseguiu domínar o meio de campo. Uma instituição pode ou não ser atingida por uma crise, em maior ou menor grau, conforme for a sua capacidade de se antecipar aos fatos e adotar a atitude mais adequada e favorável à sua imagem.

Em situação de crise não se espera a evolução dos fatos. Toma-se atitudes. Patricia Amorim amoleceu. Esperou demais e não afastou o goleiro, tão logo surgiram os primeiros boatos de desaparecimento de sua amante. Permitiu que o assédio da imprensa ao goleiro fosse feito durante os treinos, nas dependências do próprio clube.

Ok, o Flamengo não é o Bruno. Mas o Bruno é (ou era) o Flamengo. Desvincular o quanto antes a imagem de um e outro era de fundamenal importância à imagem do Clube, sobretudo para se preservar de um fato de tal magnitude. Em segundo lugar, como resposta enfática à opinião pública, acerca de sua plena isenção ao fato, mas principalmente, para evidenciar que não corrobora com a violência, e estava, sim, em campo absultamente neutro.

Entre os primeiros boatos e o efetivo afastamento do jogador foi quase um mês. No dia em que as Polícias do Rio de Janeiro e Minas Gerais já consideravam o goleiro como foragido, o Flamengo ainda estava reunindo uma Comissão para decidir sobre seu afastamento.

Movimentação lenta, decisões tardias e patinação. O Flamengo não foi envolvido diretamente, mas um dos seus principais quadros foi. Isso já era o bastante para uma tomada de decisão ágil, enfática e enérgica. O Flamengo perdeu uma grande chance de mostrar uma atitude firme conta a violência, já que declarações anteriores do (ex) atleta apontavam uma personalidade no mínimo difícil (para defender o colega Adriano, disse à nação que todo homem já tinha, alguma vez, dado uns tapas numa mulher).

Presidir uma organização, seja ela empresarial, esportiva, governamental etc, significa olhar as questões por todos os ângulos e agir na defesa dessa instituição, mesmo que em detrimento de seus quadros, quando a dúvida ainda é a única certeza. É preciso um olhar inquieto, recorrente, sistêmico e sobretudo ágil para analisar o comportamento de seus quadros e colaboradores, estabelecer valores sociais e morais e difundi-los entre seus integrantes.

O futebol como negócio é leniente. Aposta no "jeitinho brasileiro" e não adota as melhores práticas de gestão, por inépcia ou comodismo. No caso do goleiro Bruno, o Flamengo deixou a bola correr muito solta; agiu como se o (ex) atleta não fosse membro da agremiação. Ingnorou as evidências e tirou o jogador de campo aos 47 do segundo tempo. Perdeu a chance de mostrar uma outra cara: moderna, arrojada e comprometida com os valores sociais a que pertence.



FLAMENGO PATINA E NÃO FAZ A LIÇÃO DE CASA

E vai rolando em cadeia nacional (internacional também) o caso Bruno, goleiro do Flamengo. Enquanto a principal emissora de TV do País desvenda detalhes horripilantes do caso, o clube (Flamengo) anuncia que está constituindo Comissão para decidir o destino do jogador dentro da agremiação. A presidente, Patricia Amorim, não veio a público (exceto uma única e evaziva vez) para dar à opinião pública a posição do Clube sobre o caso.

A falta de uma iniciativa incisiva por parte do clube já começa a chamar a atenção de observadores, formadores de opinião e críticos esportivos. O estrago está feito. Amorim não toma para si a liderança desta ação (emergente), assim como não deixa claro, na noite da prisão do jogador e sob todas as evidências, qual a posição do clube em relação ao jogador. Começa a parecer conivência,leniência e incompetência.

A temperatura de cada crise é diferente, mas o comportamento das lideranças deve obedecer padrões técnicos. A letargia pode ser fatal quando a liderança se omite, demonstra medo e insegurança. O Flamengo, infelizmente, já foi afetado. E poderia não ter sido. Bastasse uma atitude firme da liderança para eximir a agremiação de qualquer comentário negativo.

O "timing" é fator crucial em qualquer crise, de qualquer magnitude. Boatos, comentários negativos e ligações perigosos sao estancados com informação, firmeza e, sobretudo, com exposição de valores. Amorim tem se esquivado. Pior: já passa à imprensa a sensação de estar protegendo o (ex) atleta. Estaria? Por que não houve posicionamento mesmo depois de tantas evidências, pedido de prisão preventiva, detalhes sórdidos na imprensa? O tempo, talvez, responda a questão, mas o Flamengo, detentor da maior torcida nacional, já está nos anais de casos críticos, monstruosos e inaceitáveis.

OLYMPIKUS

Ao contrário da presidente do Flamengo, Patricia Amorim, que segura a bola aos 48 do segundo tempo da partida, o patrocinador do (ex) atleta acaba de se manifestar(embora tardiamente, dadas as circunstâncias e gravidade dos fatos). A Olympikus suspendeu o patrocínio ao jogador, até que surjam provas em contrário.

Atletas de grandes clubes, com grande exposição, assinam contratos draconianos com seus patrocinadores. Não conheço os termos do contrato de Bruno com a Olympikus, mas geralmente, nesses casos, os "ídolos" se comprometem a cumprir uma série de exigências, entre elas manter padrões sociais compatíveis ao que se espera de grandes atletas. Há contratos, até, que citam valores morais, uma vez que esses jogadores representam suas marcas, seus valores, missão e visão. Devem ser exemplos de saúde, espírito esportivo e convivência social.

Portanto, a Olympikus também demorou a se posicionar, uma vez que as suspeitas sobre o (ex) atleta jé vêm sendo ventiladas há quase um mês, sendo intensificadas a cada dia, desde que o caso veio à tona. Poderiam tê-lo feito há mais tempo, sob a condição de aguardar averiguações (o contrato certamente tem essa previsão).

O Flamengo e a Olympikus já sabiam perfeitamente com quem estavam lidando. Se alegarem ignorância, serão tachados de negligentes, pois Bruno não escondia de ninguém seu temperamento explosivo e o desprezo por regras sociais (declarou ser normal a troca de tapas entre casais em uma entrevista coletiva,com intenção de defender outro encrencado, Adriano-Imperador, que só não teve a situação piorada porque conseguiu uma sobrevida num time italiano).

Às 22hs do dia em que, desde as primeiras horas da manhã a situação de Bruno se complicava a cada hora, o Flamengo ainda insiste em declarar, via assessoria de imprensa, que está convocando Comissão para decidir o futuro de Bruno. Letargia e incompetência. É Patrícia, rapadura é doce,. mas não é mole.



FLAMENGO AINDA PATINA E NÃO FAZ A LIÇÃO DE CASA


Por intermédio da assessoria de imprensa, Zico informa que não se pronunciará sobre o caso (Bruno, goleiro). Mais que previsível. Não se poderia esperar outra reação. Os times brasileiros funcionam como grupos de várzea, faturam como multinacionais e se lixam para sua relação com a sociedade e portanto, com a própria atividade (esporte envolve saúde, equilíbrio, exercício de cidadania, etc).

Mas o Zico é diretor técnico, e em que pese sua importância histórica para o clube, a palavra cabe à presidência, hoje a cargo de Patrícia Amorim. Ela tem resistido a vir a púbico, e com isso já conseguiu atrair para o clube comentários nada simpáticos. Poderia evitá-los, poderia sair dessa crise mais fortalecida, poderia reverter uma situação ruim de associação negativa imediata a ações positivas e salutares à imagem do clube.

Estar à frente de uma crise requer pensamento estratégico, coragem, disciplina e argumentação. Por quais motivos Amorim estaria se esquivando de um pronunciamento, ninguém sabe. Haveriam problemas trabalhistas envolvidos? O clube está protegendo o (ex) atleta?

Essas perguntas já têm sido formuladas por críticos, cronistas esportivos, formadores de opinião. Se ela (a presidente) não sabe respondê-las, é outra história. Mas, é, sim, sua obrigação vir a público e arrastar a cantilena, porque deve isso aos sócios, torcida e à sociedade. O Flamengo é uma organização esportiva, e como tal precisa se posicionar sobre temas que gravitam em seu entorno. É assim que funcionam as sociedades modernas.

A exemplo das empresas, que cada vez mais adotam causas socioambientais como forma de participarem efetivamente das comunidades nas quais estão inseridas e nas quais suas atividades provocam impacto, os clubes também se relacionam com a sociedade. O fato concreto é que um (ex) atleta do Flamengo está envolvido num crime de proporções até então inimagináveis e a liderança máxima deste time deve expressar sua posição em relação à circunstância. Impossível desvincular o fato de que Bruno confunde-se com o Flamengo, tanto quanto qualquer funcionário que prega um crachá numa camisa. Ao fazê-lo, esse funcionário expressa a visão, a missão e os valores daquela companhia. Exatamente o que Bruno fazia sempre que vestia a camisa número 1 do clube.

Porém, ao contrário do funcionário de crachá que bate cartão todo dia, Bruno contava com uma máquina midiática estrondosa e portanto a responsabilidade torna-se muito maior, pela abrangência de público que alcança.

Patrícia Amorim está em débito. E, pelo menos aparentemente, não tem qualquer motivo para isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário